CAIXA PRETA

Não importa qual seja a verdade, as pessoas vêem o que querem ver. Algumas pessoas podem dar um passo para trás e descobrirem que estavam olhando a mesma cena por todo o tempo. Algumas pessoas podem ver que suas mentiras quase acabaram com elas. Algumas pessoas podem ver o que estava na sua frente o tempo todo. E ainda há aquelas pessoas que correm o máximo que podem para não terem que olhar para si mesmas!

sábado, 10 de março de 2012

Vitrola quebrada


A vida, no embalo de sua ciranda, nos faz sorrir tirando-nos pedaços. E no bailar da noite, os ombros fartos repousam na dor. Deixando o ardor de toda uma esperança e de uma poeta melodia, que alhures machucou os pés de quem viveu para os palcos.
Cansada, abatida, acho que cantando, a vida me venceu, me trazendo até aqui, onde nem sei bem se estou de verdade. Os refletores já não refletem o brilho de valsa vienense, mas perpetuam o silêncio a que hoje me restou, em prisão de verão com marcha sofrida, e minha sentença de herói é aceitar!
O eco de minha voz, é a fala ensaiada e proposital do papel que não pedi para interpretar.
O sorriso forçado, já não mais deixa belo o espetáculo e as máscaras tornam-se imposição.
No vão dos acordes me perdi, as noites escuras demais, não me deixam lembrar.
A pose torta me faz cair, e já não sei se quero levantar.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

O sol no teu caminho que parece te guiar, te iluminar, pode acabar te queimando. A pior das queimaduras. Imperceptíveis, silenciosas, com calor de aconchego.

Nas cidades vazias, os muros caídos, as defesas desarmadas, é o sossego tolhedor. Depois de cada dia tudo parece ser mais intenso, mais nocivo, mais doído.

E dói... como se fosse a primeira vez, pior, como se fosse a última vez. De tristeza, de frustração o raiar parece mais pesado, então o amanhecer arrastado me deixa penosa no que deveria ser confortante.

Ser-se-ia assim, porque me deixou sorrir...

O abrigo então mascarado de masmorra arranca dos meus olhos a rotina vivida de solidão, fazendo poço o que posso guardar. Depois de tanto caminhar, os pés calejados correm sempre rumo ao horizonte, ainda que distante, sem perceber que a dormência do trajeto deixam marcas sangrentas.

No luar, o esfriar da alma deixa inquieto o coração cargado, insensível ao vento que passa como que para sarar a lepra da convivência, o tolerar de cada rancor e conveniência.

Os mesmos pés seguem o mesmo sol, pelo mesmo caminho, rumo ao amanhecer. Esquece vento, esquece alento, esquece lar. Que seja assim enquanto a estrada está aberta, enquanto teus olhos raiarem em mim e o crepúsculo ainda sossegar as tempestades do deserto.

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Tricotando a infância

Cansei de olhar o vazio e fingir que me prenchia. Olhar as pessoas fingindo que se importam, fingindo que vivem.

As gotas caêm quebradas em meio ao vão. Ninguém vê.

No sorriso torto, a sombra da alegria que fora, e gestos tragicamente gregos do que restou. Crescer, também traz perdas.

Ponto a ponto se desfez. E de ponta a ponta a saudade.

Em que ser feliz era naturalmente simples. Quando o vento falava e eu fingia que ouvia.

Quando a chuva tinha o poder de lavar a alma, então fechava os olhos pra sentir mais intensamente, como que querendo também dizer algo.

Em aventuras descompassadas, em que podia ser grande sendo eu mesma. Tempos em que o pôr-do-sol tinha aquela magia de desconhecido.

Nas linhas da Infância me refaço, me reinvento pra sobreviver.

Me esqueço, pra tentar me lembrar de fato o que fui, o que sonhei, e o que sou.

Me redescubro forte, independente, destemida, livre, CRIANÇA.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

METADE

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio...

Que a música que eu ouço ao longe
Seja linda, ainda que tristeza;
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante;
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade...

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece
E nem repetidas com fervor,
Apenas respeitadas como a única coisa que resta
A um homem inundado de sentimentos;
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo...

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço;
E que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada;
Porque metade de mim é o que penso
Mas a outra metade é um vulcão...

Que o medo da solidão se afaste
E que o convívio comigo mesmo
Se torne ao menos suportável;
Que o espelho reflita em meu rosto
Um doce sorriso que me lembro ter dado na infância;
Porque metade de mim é a lembrança do que fui,
A outra metade eu não sei...

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais;
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço...

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade para faze-la florescer;
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção...

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade... também.

Oswaldo Montenegro
pensador.uol.com.br

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Invernos, Impérios, mistérios
Lembranças, cobranças, vinganças
Como a dor que fere o peito, isso vai passar também.
E todo o medo, o desespero e a legria
E a tempestade, falsidade e a calmaria
E os teus espinhos e o frio que eu sinto
Isso vai passar também

Saudades, vaidades, verdades
Coragem, miragens e a imagem
No espelho como a dor que fere o peito
Isso vai passar também

E todo o medo, o desespero e a alegria
E a tempestade, falsidade e a calmaria
E os seus éspinhos e o frio que eu sinto
Isso vai passar também, logo.
Depois que tudo passa, vemos as alegrias contidas em cada momento despercebido.
Descobrir que viver só, é possível, mas num mundo sem verdades.
O cansaço só deixa mais profundas as cicatrizes de cada lágrima e acabamos esquecendo o que queríamos tanto lembrar.
Depois de tanto insistir, depois de quase desistir...Ousar já não importa mais, ouvir nem conseguimos mais e lembrar nunca doeu tanto. Os mesmos sonhos afloram à tona vestidos de pesadelos e nos submergem como se estivessem nos salvando.
O horizonte ainda está ali, ainda posso vê-lo, mas ja não me permito ultrapassar, os pés cansados demais para insistir, a alma longe ja não quer resistir; e desfaleço ao ver que não são os horizontes, são as miragens.
A mesma água nos olhos é a que vem lavar dentro e fora, descobri que o que faz parar também joga no abismo, ou você enfrenta os horizontes ou cairá definitivamente.
Voando ou correndo, saindo da partida ou do recomeço, não importa. O que importa é onde você irá chegar.
AMÁRIA MIRANDA

Fiz mais do que posso
Vi mais do que aguento
E a areia dos meus olhos é a mesma que acolheu minhas pegadas
Depois de tanto caminhar
Depois de tanto desistir
Os mesmos pés cansados voltam pra você
Eu lutei contra tudo
Eu fugi do que era seguro
Descobri que é possível viver só
mas num mundo sem verdades
meus pés cansados de lutar
meus pés cansados de fugir
Os mesmos pés cansados voltam pra você
Pra você
Sem medo de te pertencer
Volto pra você.